Imigração ilegal. Clube da II Liga apanhado em operação do SEF
Oeiras, 13/11/2014 – O edifiício sede do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) foi hoje alvo de buscas, por parte da Polícia Judiciária, numa investigação relacionada com os Vistos Gold. (Carlos Manuel Martins/Global Imagens)

Inspetores estiveram em 20 clubes e associações desportivas e encontraram 47 jogadores de futebol em situação irregular. Sindicato dos futebolistas diz que é preciso denunciar exploração.

Um clube da II Liga de futebol está envolvido numa investigação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras relacionada com tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal e falsificação de documentos. A instituição do segundo campeonato nacional de futebol mais importante teria no seu plantel atletas em situação irregular em Portugal, segundo as informações recolhidas pelo DN.

Esses jogadores fazem parte de um grupo de 47 futebolistas detetados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) sem visto ou autorização de residência no País nuns casos ou sem autorização para participar em competições oficiais em outros. Também a existência de contratos de trabalho e qual o tipo de vínculo estiveram em análise.

Sem divulgar os nomes das entidades fiscalizadas, o SEF adiantou que os seus inspetores estiveram em 20 clubes e associações desportivas tendo sido identificados 241 futebolistas, 135 deles estrangeiros. Destes, 32 foram notificados para deixar voluntariamente o país nos próximos 20 dias. Já os restantes 12 reúnem condições para regularizar a sua presença em Portugal.

Nesta investigação a situações de exploração da atividade de imigrantes associada a redes de tráfico humano foram detetados indícios de que três clubes/ associações desportivas estariam a praticar crimes de falsificação de documentos e auxílio à imigração ilegal, factos que foram comunicados ao Ministério Público. Segundo as informações prestadas ao DN “nenhum, dirigente foi, para já, constituído arguido”.

A grande maioria dos atletas nasceu em países da América do Sul e os clubes onde estavam pertencem aos distritos de Coimbra, Aveiro, Viseu, Leiria e Guarda. Fonte do SEF garantiu ao DN que os futebolistas, todos maiores de idade, estavam inscritos nas respetivas associações a que pertencem os clubes e que participariam em desafios oficiais. No entanto, não foi possível confirmar em que divisões isso aconteceria pois, além da instituição da II Liga, estiveram envolvidos na ação do SEF clubes que participam no Campeonato de Portugal e nos Distritais, escalão onde se regista o maior número de infrações à lei.

No decorrer desta ação o SEF instaurou 12 procedimentos de contraordenação, com coimas que podem variar entre os 28 mil e os 140 mil euros, aos clubes e associações desportivas que tinham ao seu serviço atletas estrangeiros em situação ilegal.

Exploração de jovens candidatos a atletas

A presença em Portugal de jogadores com a sua situação legal por regularizar, muitos deles trazidos para território nacional por redes criminosas, é um tema referido com frequência pelo sindicato dos futebolistas, ao ponto de ainda nesta sexta-feira o seu presidente ter participado, na Figueira da Foz, num encontro sobre tráfico de seres humanos.

Neste II Encontro da Rede Regional do Centro de Apoio e Proteção a Vítimas de Tráfico de Seres Humanos participaram, além do sindicato, inspetores do SEF, representantes do Instituto de Apoio à Criança, do Observatório do Tráfico de Seres Humanos, Comissão Nacional da Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, Comissão para a Cidadania e Igualdade do Género, da câmara municipal e de entidades regionais ligadas ao apoio a vítimas de tráfico.

Uma oportunidade para Joaquim Evangelista falar sobre a situação que diz viver-se no futebol em Portugal e que não é colocada no espaço mediático: a exploração de jovens.

“Temos de denunciar estas redes organizadas que se aproveitam da vulnerabilidade dos jogadores e dos pais, por norma africanos e sul-americanos, para ganhar dinheiro. Não é um assunto muito mediático, mas há um grande aproveitamento das pessoas, principalmente ao nível dos escalões de formação”, adianta em declarações ao DN.

Explica que o sindicato assinou há quatro anos um protocolo com a Liga Portuguesa de Futebol Profissional e a Federação Portuguesa de Futebol sobre o tema. “Estas redes organizadas têm como objetivo o negócio, mas por outro lado aproveitam o facto de os clubes serem vulneráveis pois precisam de dinheiros e os agentes dos jogadores pagam-lhes para os receberem”, explica.

O esquema é simples: “Os agentes colocam os atletas a treinar nos clubes [que são pagos por isso] e depois se têm talento são inscritos e podem ser transferidos para outro clube. Os que não têm talento são abandonados. No sindicato já tivemos casos em que pagámos a alimentação, o alojamento e o bilhete de regresso para o seu país.”

Reconhece, todavia, que o cerco se está a apertar a estes negócios: “A Federação Portuguesa de Futebol está a exigir aos clubes uma série de requisitos de forma a poder lidar com este fenómeno.” Ação que foi confirmada ao DN por fonte da FPF ao mesmo tempo que frisou que quando um clube quer inscrever um atleta estrangeiro o SEF é informado.

Os maiores problemas nesta área têm surgido nos escalões de formação, refere Joaquim Evangelista, principalmente quando os jovens não são escolhidos para prosseguir a carreira no futebol..

“Ficam sem se integrar e podem acabar por entrar no crime. Muitos deles chegam cá com visto de turista e depois quando termina esse prazo e não têm talento ficam por cá…”.

DN