Racismo no futebol: Koulibaly é só a última vítima nesta triste lista de ofensas

Koulibaly é apenas uma das vítimas de discriminação racial na Itália, país onde o racismo e a xenofobia se manifestam com maior frequência. Balotelli, Boateng e Eto’o foram outros jogadores alvos de preconceito no futebol. A falta de castigos reforça o discurso de ódio, e histórias como a de Muntari, a vítima punida, chamam a atenção.

O caso de racismo envolvendo o jogador senegalês Kalidou Koulibaly é mais uma mancha no futebol italiano. O defesa do Nápoles ouviu cânticos de macaco na derrota para o Inter de Milão, na última quarta-feira e, irritado com as ofensas, levou o segundo cartão amarelo, o que provocou a sua expulsão da partida. Se para muitos, o futebol é sinónimo de democracia, igualdade e inclusão social, histórias de preconceito se repetem desde o seu surgimento.

Em Itália, faltam atitudes no intuito de erradicar o preconceito. Pelo contrário, muitas vezes, as punições são contra as próprias vítimas. Quando Totti estreou uma campanha de consciencialização há alguns anos, os adeptos da Roma revoltaram-se contra a sua atitude; Balotelli, uma das principais estrelas da seleção italiana, viu-se envolvido em mais de 60 episódios de discriminação tanto em Itália como fora dela. Um dos golpes mais duros veio logo depois de uma das convocações para a selecção, quando ouviu gritos da torcida: “Não existem italianos negros”.

Recordemos, então, alguns dos tristes episódios no calcio.

Muntari

Um caso inusitado aconteceu na Serie A no ano passado. No jogo entre o Cagliari e o Pescara, em Cagliari, o médio ganês Sulley Muntari foi insultado pela claque da casa, mas, quando foi reclamar do racismo, acabou punido pelo árbitro Daniele Minelli. Muntari levou cartão amarelo, deixou o campo ainda mais irritado, e levou outro cartão, o que resultou na sua expulsão. O médio acumula no currículo três participações em Mundiais e passagens por clubes como Milan e Inter.

Após a polémica, o Comitê Disciplinar do campeonato considerou a atitude dos adeptos “deplorável”; no entanto, avaliou o comportamento do jogador como “inaceitável”. No final de contas, Muntari ainda foi suspenso por um jogo, enquanto a equipa da Sardenha não sofreu qualquer punição. Na altura, a federação italiana optou por não penalizar o Cagliari por considerar “a discriminação racial entoada por um número aproximado de 10 torcedores, portanto, menos de 1% do número de ocupantes do setor do estádio”.

Rüdiger

Episódios como este repetem-se no futebol italiano. Koulibaly, do Napoli, assim como o defesa Rüdiger, da Roma, também sofreram ofensas racistas de adeptos de Inter e Lazio. As equipas não foram punidas em ambos os casos. O Comité Disciplinar apenas deu uma advertência aos clubes, avisando-os de que eles poderiam ter parte do estádio interditado se o mau comportamento de suas claques persistir. A falta de punição e pulso firme em incidentes do género reforçam as críticas às autoridades italianas.

Matuidi

O francês Blaise Matuidi, filho de pai angolano e mãe congolesa, engrossou o coro. O médio da Juventus também revelou ter sido alvo de preconceito na Série A este ano: “Pessoas fracas tentam intimidar com o ódio. Eu não odeio e só posso lamentar aqueles que promovem maus exemplos”, afirmou o jogador depois de uma partida contra o Cagliari. Para Matuidi, o futebol é o espaço para se espalhar a igualdade, a inspiração e paixão.

Kevin Prince- Boateng

Kevin Prince-Boateng foi um dos que viveu uma situação lamentável em território italiano. O alemão de origem ganesa ouviu cânticos racistas quando defendia o Milan no duelo contra o Pro Patria, equipa da terceira divisão italiana. Os adeptos do rival não deram trégua. Boateng chutou a bola em direção à claque do Patria, tirou a camisola, seguiu para os vestiários e retirou-se da disputa, em janeiro de 2013.

Os outros jogadores do Milan também se recusaram a continuar na partida e juntaram-se ao alemão. A partida foi paralisada, e o jogador manifestou-se nas redes sociais: “É uma vergonha que essas coisas ainda aconteçam. O racismo tem que acabar, para sempre”, disse Boateng no Twitter.

Eto’o

O avançado camaronês já foi alvo de preconceito em diferentes equipas pelas quais jogou ao longo da carreira profissional. Quando atuou pelo Barcelona, entre 2004 e 2009, Eto’o viu as claques do Racing Santander, Getafe e Zaragoza ecoarem cantos racistas pelos estádios no Campeonato Espanhol. Inconformado, o jogador exigiu uma dura punição, contudo, os clubes envolvidos foram penalizados apenas com multas inferiores a € 9 mil.

E mesmo na altura em que defendeu o Anzhi, da Rússia, de 2011 a 2013, ele foi vítima de preconceito dentro de casa. Os adeptos da sua equipa imitaram o som de macaco quando ele tocava na bola, mas não houve qualquer punição à equipa.

Balotelli

Outro caso a reacender o debate da discriminação racial no futebol envolveu o italiano Mario Balotelli. Num amistoso da Itália contra a Croácia, em Poznan, na Polônia, o avançado de origem ganesa foi alvo de ataques por parte dos croatas. Bananas foram atiradas ao campo, e estima-se que ce 300 a 500 adeptos tenham participado do ato contra Balotelli.

Roberto Carlos

O brasileiro também passou por maus lençóis na época em que atuou pelo Anzhi. Numa partida contra o Zenit, Roberto Carlos viu os adeptos do clube rival atirarem bananas na direção onde estava no campo de futebol. O Zenit teve de pagar uma multa de US$ 10 mil pelo episódio.

Meses depois, num jogo contra o Krylya Sovetov, no qual o Anzhi vencia por 3 a 0, adeptos voltaram a atirar bananas no relvado e provocaram a ira do brasileiro, que saiu de cena antes do previsto. Na ocasião, ele pediu punição aos culpados e mostrou o quanto estava insatisfeito com o comportamento da claque.

Tribuna Expresso