O dirigente fez afirmações que chocaram a sociedade germânica. Figuras do desporto e da política manifestaram-se.
“Em vez de aumentarmos impostos, deveríamos financiar 20 centrais elétricas em África todos os anos. Então, os africanos deixariam de cortar árvores e de fazer filhos quando escurece”. A frase foi dita por Clemens Toennies, 63 anos, na passada quinta-feira, numa conferência em Paderborn, escandalizando diversos setores da sociedade alemã.
Foram palavras que geraram múltiplos
pedidos de demissão do cargo de presidente do Shalke 04, de adeptos do
clube de Gelsenkirchen a figuras políticas e do desporto germânico.
O
presidente da Liga alemã (DFB), Reinhard Rauball, disse que tais
declarações são “completamente incompatíveis com os valores do futebol”
defendidos pela liga e federação alemãs. E o presidente da comissão de
desporto do Bundestag, a câmara baixa do parlamento alemão, Dagmar
Freitag, sublinhou que “o facto de algo assim ser dito por alguém que
ocupa um cargo de primeiro plano no desporto só agrava as coisas”.
A
ministra da Justiça, Christine Lambrecht, também se pronunciou sobre o
caso, solicitando à Federação que “se ocupe” de Toennis. “O racismo deve
ser sempre combatido de forma inequívoca e veemente”, afirmou a
governante, citada pelo grupo de media “Funke”.
Ontem, Toennis apresentou um pedido de desculpas com um comunicado publicado no site do Schalke. Admitiu ter dito coisas “inapropriadas” e garantiu que defende os valores do clube, opostos a qualquer forma de “racismo, discriminação ou exclusão”.
O Manchester United mostrou-se hoje “enojado” com
as demonstrações de ódio racial dirigidas por alguns dos seus adeptos ao
futebolista Paul Pogba, que na segunda-feira falhou uma grande
penalidade no embate com o Wolverhampton (1-1).
“Todo o nosso clube está enojado com as
ofensas racistas proferidas contra Paul Pogba no estádio e nas redes
sociais. Condenamos categoricamente esse tipo de atitudes”, afirmaram os
‘red devils’ em comunicado.
Em jogo da segunda jornada da Premier League,
no terreno do Wolves, aos 68 minutos, Pogba falhou uma grande
penalidade, permitindo a defesa do guarda-redes português Rui Patrício,
numa altura em que resultado já estava 1-1.
O médio francês apareceu com alguma surpresa na marcação do penálti, já que normalmente é Marcus Rashford que tem essa função.
“O Manchester United tem tolerância zero para
com qualquer forma de racismo ou discriminação e um compromisso de longo
prazo em lutar contra isso. Iremos trabalhar para identificar os poucos
envolvidos nestes incidentes e tomar as mais duras medidas ao nosso
alcance. Também encorajamos as empresas de redes sociais a tomar
medidas”, referiu.
A relação do médio francês com os adeptos do Manchester United tem sido quase sempre tensa, e a imprensa desportiva tem avançado que Pogba poderá abandonar Old Trafford e assinar pelo Real Madrid.
Queixas por discriminação continuam a agravar-se no futebol inglês,
avança um novo relatório da “Kick it Out” uma organização criada para
promover a igualdade e a inclusão dentro das quatro linhas dos campos
britânicos.
Pelo
sexto ano, as queixas aumentaram. Em relação à época anterior, em
2017/18 houve mais 11 por cento de queixas por discriminação nos
diversos campeonatos, incluindo nos esaclões de formação, o que torna o
problema ainda mais preocupante.
Pelo
menos 53 por cento das registadas em 2017/18 estão relacionadas com
racismo, um aumento de 22 por cento em relação à temporada anterior,
sublinha a “Kick it Out”, revelando ter tido acesso a 520 queixas da
época passada contra 469 em 2016/17.
O treinador do Brady Maccabi FC, um clube judeu inglês, reforça que “o problema tem vindo a agravar-se.”
“É
triste. Julgo estar relacionado com o que as pessoas leem nos jornais e
que é visto como normal. Depois, de repente, as pessoas deixam-se levar
e começam também a contribuir para o problema. Na última época, tivemos
um caso muito grave de antissemitismo. Esta época, já tivemos três ou
quatro casos que tive de denunciar à federação”, revela Joel Nathan.
Joel Freedman, um dos jovens futeblistas do Brady Maccabi FC, já foi vítima de antissemitismo.
“Depois de um jogo, um dos jogadores adversários descobriu nas redes sociais os perfis de alguns dos nossos jogadores e conseguiu entrar num grupo. A equipa dele enviou-nos comentários antissemitas, dizendo por exemplo que Hitler tinha razão, que as câmaras de gás tinham sido uma coisa boa e que todos nós devíamos ter sido mortos”, recorda o jovem futebolista.
O estudo agora publicado pela “Kick it Out” veio relançar o alarme no futebol inglês, onde o Chelsea é já um dos clubes a tentar impedir o antissemtismo de florescer em Stamford Bridge.
Depois de alguns
jogos em que os próprios adeptos dos “blues” atacaram adeptos e equipas
rivais como o Tottenham ou o Leicester com cânticos antissemitas, o
clube decidiu iniciar um novo programa de reabilitação dos adeptos e em
junho pagou a primeira excursão de apoiantes com antecedentes
antissemitas às ruínas do campo de concentração de auschwitz, na
Polónia.
O clube, cujo dono, o russo Roman Abramovich, é judeu,
tentou confrontar os adeptos com a terrível história do Holocausto e com
os pesadelos que os cânticos antissemitas provocam nos adeptos rivais a
quem dirigem os cânticos racistas.
A proposta é para continuar e é simples: ou aceitam a excursão ao monumento de memória de um dos períodos mais terríveis da história da Humanidade ou são banidos do estádio. O Chelsea recebeu diversas manifestações de apoio, incluindo da Federação inglesa de Adeptos de Futebol, a programa de reabilitação.
Koulibaly é apenas uma das vítimas de discriminação racial na Itália, país onde o racismo e a xenofobia se manifestam com maior frequência. Balotelli, Boateng e Eto’o foram outros jogadores alvos de preconceito no futebol. A falta de castigos reforça o discurso de ódio, e histórias como a de Muntari, a vítima punida, chamam a atenção.
O caso de racismo envolvendo o jogador senegalês Kalidou Koulibaly é
mais uma mancha no futebol italiano. O defesa do Nápoles ouviu cânticos
de macaco na derrota para o Inter de Milão, na última quarta-feira e,
irritado com as ofensas, levou o segundo cartão amarelo, o que provocou a
sua expulsão da partida. Se para muitos, o futebol é sinónimo de
democracia, igualdade e inclusão social, histórias de preconceito se
repetem desde o seu surgimento.
Em Itália, faltam atitudes no
intuito de erradicar o preconceito. Pelo contrário, muitas vezes, as
punições são contra as próprias vítimas. Quando Totti estreou uma
campanha de consciencialização há alguns anos, os adeptos da Roma
revoltaram-se contra a sua atitude; Balotelli, uma das principais
estrelas da seleção italiana, viu-se envolvido em mais de 60 episódios
de discriminação tanto em Itália como fora dela. Um dos golpes mais
duros veio logo depois de uma das convocações para a selecção, quando
ouviu gritos da torcida: “Não existem italianos negros”.
Recordemos, então, alguns dos tristes episódios no calcio.
Muntari
Um caso inusitado aconteceu na Serie A no ano passado. No jogo entre o Cagliari e o Pescara, em Cagliari, o médio ganês Sulley Muntari foi insultado pela claque da casa, mas, quando foi reclamar do racismo, acabou punido pelo árbitro Daniele Minelli. Muntari levou cartão amarelo, deixou o campo ainda mais irritado, e levou outro cartão, o que resultou na sua expulsão. O médio acumula no currículo três participações em Mundiais e passagens por clubes como Milan e Inter.
Após a polémica, o Comitê Disciplinar do campeonato considerou a
atitude dos adeptos “deplorável”; no entanto, avaliou o comportamento do
jogador como “inaceitável”. No final de contas, Muntari ainda foi
suspenso por um jogo, enquanto a equipa da Sardenha não sofreu qualquer
punição. Na altura, a federação italiana optou por não penalizar o
Cagliari por considerar “a discriminação racial entoada por um número
aproximado de 10 torcedores, portanto, menos de 1% do número de
ocupantes do setor do estádio”.
Rüdiger
Episódios como
este repetem-se no futebol italiano. Koulibaly, do Napoli, assim como o
defesa Rüdiger, da Roma, também sofreram ofensas racistas de adeptos de
Inter e Lazio. As equipas não foram punidas em ambos os casos. O Comité
Disciplinar apenas deu uma advertência aos clubes, avisando-os de que
eles poderiam ter parte do estádio interditado se o mau comportamento de
suas claques persistir. A falta de punição e pulso firme em incidentes
do género reforçam as críticas às autoridades italianas.
Matuidi
O
francês Blaise Matuidi, filho de pai angolano e mãe congolesa,
engrossou o coro. O médio da Juventus também revelou ter sido alvo de
preconceito na Série A este ano: “Pessoas fracas tentam intimidar com o
ódio. Eu não odeio e só posso lamentar aqueles que promovem maus
exemplos”, afirmou o jogador depois de uma partida contra o Cagliari.
Para Matuidi, o futebol é o espaço para se espalhar a igualdade, a
inspiração e paixão.
Kevin Prince- Boateng
Kevin
Prince-Boateng foi um dos que viveu uma situação lamentável em
território italiano. O alemão de origem ganesa ouviu cânticos racistas
quando defendia o Milan no duelo contra o Pro Patria, equipa da terceira
divisão italiana. Os adeptos do rival não deram trégua. Boateng chutou a
bola em direção à claque do Patria, tirou a camisola, seguiu para os
vestiários e retirou-se da disputa, em janeiro de 2013.
Os outros
jogadores do Milan também se recusaram a continuar na partida e
juntaram-se ao alemão. A partida foi paralisada, e o jogador
manifestou-se nas redes sociais: “É uma vergonha que essas coisas ainda
aconteçam. O racismo tem que acabar, para sempre”, disse Boateng no
Twitter.
Eto’o
O avançado camaronês já foi alvo de
preconceito em diferentes equipas pelas quais jogou ao longo da carreira
profissional. Quando atuou pelo Barcelona, entre 2004 e 2009, Eto’o viu
as claques do Racing Santander, Getafe e Zaragoza ecoarem cantos
racistas pelos estádios no Campeonato Espanhol. Inconformado, o jogador
exigiu uma dura punição, contudo, os clubes envolvidos foram penalizados
apenas com multas inferiores a € 9 mil.
E mesmo na altura em que defendeu o Anzhi, da Rússia, de 2011 a 2013, ele foi vítima de preconceito dentro de casa. Os adeptos da sua equipa imitaram o som de macaco quando ele tocava na bola, mas não houve qualquer punição à equipa.
Balotelli
Outro caso a reacender o debate da discriminação
racial no futebol envolveu o italiano Mario Balotelli. Num amistoso da
Itália contra a Croácia, em Poznan, na Polônia, o avançado de origem
ganesa foi alvo de ataques por parte dos croatas. Bananas foram atiradas
ao campo, e estima-se que ce 300 a 500 adeptos tenham participado do
ato contra Balotelli.
Roberto Carlos
O brasileiro também
passou por maus lençóis na época em que atuou pelo Anzhi. Numa partida
contra o Zenit, Roberto Carlos viu os adeptos do clube rival atirarem
bananas na direção onde estava no campo de futebol. O Zenit teve de
pagar uma multa de US$ 10 mil pelo episódio.
Meses depois, num jogo contra o Krylya Sovetov, no qual o Anzhi vencia por 3 a 0, adeptos voltaram a atirar bananas no relvado e provocaram a ira do brasileiro, que saiu de cena antes do previsto. Na ocasião, ele pediu punição aos culpados e mostrou o quanto estava insatisfeito com o comportamento da claque.
A três meses do Mundial, as jogadoras da seleção de futebol feminino dos Estados Unidos processaram a federação norte-americana por aquilo a que chamam “discriminação de género institucionalizada”.
28 jogadoras da seleção de futebol feminino dos Estados Unidos processaram esta sexta-feira a United States Soccer Federation, a Federação de Futebol dos Estados Unidos, devido a queixas de discriminação de género.
A tomada de posição das atletas surge como o culminar de uma luta sobre
igualdade salarial e condições laborais travada entre as duas partes há
vários anos e aparece apenas meses antes de Carli Lloyd, Megan Rapinoe,
Alex Morgan e companhia começarem defender o título mundial conquistado
em 2015, já que o Campeonato do Mundo de futebol feminino arranca no
mês de junho.
No processo, as 28 jogadoras acusam a federação — o
organismo que regula todo o futebol, masculino e feminino, nos Estados
Unidos — de anos daquilo a que chamam “discriminação de género institucionalizada”. As queixas da seleção, de acordo com o New York Times,
não dizem respeito somente aos salários mas também ao facto de a
federação norte-americana controlar onde as jogadoras jogam e com que
frequência, a forma como treinam, os tratamentos médicos que recebem e
até a maneira como viajam até aos locais dos jogos.
Os pontos referidos no processo agora tornado público incluem alguns dos problemas descritos por cinco jogadoras titulares da seleção — Alex Morgan, Hope Solo, Carli Lloyd, Megan Rapinoe e Becky Sauerbrunn — numa queixa feita à Comissão de Igualdade de Oportunidade Laboral dos Estados Unidos em 2016. A ausência de uma resolução, de qualquer ação governamental ou atitude por parte da federação após essa primeira medida terá levado um conjunto ainda maior de atletas a apresentar então o processo conhecido esta sexta-feira.
A ação judicial representa todas as jogadores que tenham representado
a seleção dos Estados Unidos desde fevereiro de 2015 — numa janela que
pode incluir outras dezenas de jogadoras — e exige o pagamento de
retroativos e danos, numa quantia que pode chegar aos milhões de
dólares. O processo é então o último capítulo de uma luta que dura há
vários anos (primeiro de forma interna e privada, depois de forma
pública) e que tem como pontos fulcrais a compensação salarial, o apoio às atletas e as condições laborais enquanto as jogadoras representam os Estados Unidos:
o grupo que agora leva o caso para os tribunais defende que lhe é
exigido um número superior de jogos e vitórias do que aquele que é
pedido à seleção masculina e que a recompensa monetária é
significativamente inferior.
As comparações diretas entre os salários auferidos pelos jogadores e pelas jogadoras das seleções dos Estados Unidos podem, ainda assim, ser bastante complicadas. Cada equipa tem um acordo negociado com a federação e uma das principais diferenças entre o futebol masculino e feminino é exatamente a estrutura de pagamento: enquanto os homens recebem bónus superiores sempre que jogam pela seleção mas só são pagos quando são convocados, as mulheres recebem bónus de valor inferior mas têm salários garantidos.
O Presidente da República promulgou o diploma que estabelece o regime jurídico da segurança e combate ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espetáculos desportivos, alterando a lei de 2009.
O novo diploma foi promulgado “apesar de dúvidas sobre a praticabilidade e a eficácia de algumas soluções adotadas, atendendo à relevância dos valores salvaguardados e ao facto de ter merecido amplíssimo consenso, sem qualquer voto contrário”.
O Parlamento aprovou em 05 de julho a proposta de lei que altera o regime jurídico do combate à violência, racismo, xenofobia e intolerância nos espetáculos desportivos, com a abstenção de PCP e PEV e os votos favoráveis dos restantes partidos.
O diploma permitirá acomodar a Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto, criada em agosto de 2018 pelo Governo e presidida por Rodrigo Cavaleiro, e visa promover uma abordagem mais eficaz no combate aos fenómenos de violência associados aos espetáculos e às atividades desportivas.
O novo organismo para a prevenção e combate à violência no desporto assenta em quatro pilares: celeridade processual e transparência, aplicabilidade da lei, prevenção e grupos organizados de adeptos.
A nova legislação, que prevê um agravamento de todas as sanções previstas na lei e medidas concretas de identificação de adeptos, já tinha merecido a aprovação por unanimidade pelos grupos parlamentares que integram a Comissão de Comunicação, Cultura, Juventude e Desporto da Assembleia da República, em dezembro de 2018.
O objetivo da nova legislação é combater o fenómeno da violência do desporto através do encurtamento dos prazos processuais, do aumento dos limites mínimos das coimas e da possibilidade de interdição parcial de estádios.
Entre outras medidas, é proposto o reforço das obrigações dos agentes desportivos em ações de prevenção e a criação do cartão de adepto para se aceder a determinadas zonas de alguns espetáculos desportivos.