Investigação de diário Daily Mail garante que há jogadores da Premier League que consomem snus, um produto com alegados benefícios na prestação em campo. A venda está banida na União Europeia.
Um produto sueco, consumido de forma semelhante ao tabaco
mascado por jogadores de basebol nos EUA mas com um teor de nicotina que
chega aos 27 mg por dose, está a mexer com o universo do futebol no Reino Unido, segundo uma investigação do Daly Mail que atribui o consumo a vários jogadores profissionais.
A venda de snus — é esse o nome do produto armazenado em pequenas
bolsas de uso individual, como mini-saquetas de chá de infusão — é
ilegal no país e na União Europeia, exceto na Suécia. E integra uma
lista de substâncias que a Agência Mundial Anti-Doping mantém sob
controlo, por alegadamente potenciar a performance física.
O diário britânico assegura que o consumo de snus “explodiu entre os atletas mais jovens”
de uma das ligas de futebol mais competitivas do mundo. Num determinado
“clube preocupado” com a situação — mas que não é nomeado –, o
regulamento disciplinar impõe que um jogador apanhado na posse deste
produto será alvo de uma coima de 10 mil libras (cerca de 11.500 euros); noutro clube, a penalização traduz-se num corte de duas semanas do salário do jogador.
Haverá treinadores que admitem ter jogadores a consumir snus
durante os treinos e “uma fonte bem colocada” que assegura que um
“jogador profissional, conhecido por ser um consumir frequente da
substância, foi sujeito a um tratamento para o cancro de gengiva”.
Mas, casos concretos, só o de Jamie Vardy.
O ponta de lança do Leicester e internacional pela Inglaterra deixou
claro, na sua autobiografia (o livro foi editado em 2016), que é
consumidor deste produto. E também deixou a sugestão de que outros
colegas de desporto consomem durante os jogos.
“Quando cheguei ao Leicester, comecei a usá-la”, escreveu o sueco no livro.”São sacos de nicotina que colocas nas gengivas durante aproximadamente dez minutos. Um dos meus companheiros ensinou-me quando assinei pelo Leicester e descobri que me ajudava a relaxar. Muitos mais futebolistas do que as pessoas pensam usam-na. E há alguns que até jogam com elas durante os jogos”, revelou o jogador.
Victor Lindelöf, ex-defesa do Benfica e atual jogador do Manchester United, publicou há cerca de um ano e meio uma imagem na sua conta Twitter para prestar “homenagem” a uma marca que comercializa um “incrível snus”.
Além de carregado de nicotina (mais de 27 mg por saqueta,
que comparam com 1mg de nicotina por cigarro Marlboro, razão pela qual a
sua venda é proibida na generalidade dos países europeus), este produto
terá efeitos da prestação dos atletas em campo: estimula o estado de alerta, a energia e a força
dos jogadores, refere o Daily Mail. É essa a razão para que Agência
Mundial de Controlo Anti-Doping mantenha as pequenas embalagens sob
vigilância.
A investigação do tablóide britânico percorreu as redes sociais e descobriu que vários jogadores dos principais clubes da Premier League seguem as páginas de marketing comercial deste produto — o que não significa que sejam consumidores.
Uma investigação do “Mail on Sunday” revela que a FIFA e o país anfitrião do mundial de futebol, a Rússia, estão mergulhados numa turbulência provocada por novas evidência de encobrimento por parte do Estado de casos doping nos jogadores de elite russos.
O jornal britânico “Mail on Sunday” afirma que a FIFA tem documentos
que provam o encobrimento institucional que há 18 meses as autoridades
russas fizeram de casos de doping. Mas, diz o jornal, a FIFA
aparentemente optou por não fazer nada para responsabilizar a Rússia FA
(federação russa) e o ministro do Desporto russo.
A
investigação mostra “detalhes incríveis” que incluem novas informações
sobre como o ministro dos desportos russo encobriu testes positivos de
doping de um dos jogadores inicialmente nomeados para ir ao campeonato
do mundo representar a Rússia, e como trocou a urina problemática por
uma amostra limpa. O jogador era Ruslan Kambolov, que acabou por ser
desconvocado e deixou de fazer parte dos 23 convocados para representar a
Rússia.
A escala de corrupção é grande, com os investigadores a
dizerem que há 155 casos de doping de jogadores de futebol russos que
foram encobertos e que isto é apenas a ponta do iceberg. Em pelo menos
34 desses casos existem documentação, testemunhos e confirmações que,
defendem os investigadores, dariam à FIFA uma boa hipótese para avançar
com processos disciplinares.
A FIFA alega que olhou ativamente
para o assunto durante mais de um ano. Mas não deu seguimento a um único
caso, limitando -se a declarar que as investigação prosseguem.
Antes
do evento começar a FIFA anunciou que não tinha provas suficientes para
processar nenhum dos jogadores que fazem parte da seleção da Rússia por
violação das regras de doping.
Richard Pound, antigo
administrador da agência internacional anti-doping, diz ao “Mail on
Sunday” que é natural que a FIFA responda assim. “Eles têm uma questão
de biliões de dólares numa participação num simples campeonato do
mundo”.
A Russia vai para o seu terceiro jogo do grupo A na
segunda-feira, e está com duas vitórias e oito golos, o melhor começo de
sempre de anfitriões. A que se adiciona o facto de os seus jogadores
terem corrido mais neste dois jogos do que qualquer equipa de outra
nação – 230 kilometros – o que leva questões sobre o seu desempenho.
Os fãs à volta do mundo, incluindo na Rússia, começaram a ter dúvidas sobre a credibilidade da equipa nacional na sequência dos recordes batidos desde o início do campeonato do mundo.
O canadiano Richard McLaren, autor do relatório que denunciou um sistema generalizado de distribuição de doping na Rússia, considerou que existem indícios que apontam para uma metodologia semelhante utilizada no futebol do país organizador do Mundial2018.
De acordo com McLaren, as trocas de correspondência eletrónica entre altos responsáveis russos, datadas de 2015, deixam a entender que as amostras de urina positivas terão sido substituídas por outras “limpas” de substâncias dopantes.
“Isso leva-nos a supor que existia um banco de amostras conformes (…) e que esse banco foi utilizado por futebolistas”, sustentou o jurista, em entrevista emitida na quarta-feira pelo canal televisivo alemão ARD.
Segundo McLaren, todos os inícios apontam para a existência de “um sistema diferente para o futebol” russo, mas utilizado em paralelo com o de outras modalidades, que foi denunciado no relatório pedido pela Agência Mundial Antidopagem (AMA).
O canadiano revelou que a AMA tem na sua posse 155 amostras de futebolistas russos ainda à espera de serem analisados e que a FIFA, o organismo regulador do futebol mundial — que não respondeu às perguntas formuladas pela ARD – foi informada.
Na sequência da descoberta de um sistema de distribuição de doping em larga escala com conhecimento e apoio estatal, que abrangeu, entre outros eventos, os Jogos Olímpicos Londres2012 e Socchi2014 (Inverno), os atletas russos foram impedidos de participarem nos Jogos Rio2016.
Fernando Mendes escreve biografia polémica e descreve uso generalizado de dopantes no futebol.
Aparece de chinelos e calças de ganga fashion. Está mais
velho, mas com o mesmo ar insolente com que passeava nos estádios e nas
conferências de imprensa. “Sempre gostei de ser diferente”.
Fernando Mendes escreveu, de facto, uma biografia diferente do habitual: confessa o uso do doping
nos melhores anos da carreira e só não diz em que clubes para evitar
processos judiciais. Iliba o FC Porto, mas recusa-se a esclarecer se
jogou dopado no Belenenses e no Boavista. O livro descreve uma realidade
chocante, de seringas nos balneários e juniores usados como cobaias.
Chama-se “Jogo Sujo”.
Fernando Mendes tem 42 anos e prepara-se no Olímpico do Montijo para ser treinador. Na semana passada falou ao Expresso.
Porquê escrever este livro agora? Antes de acabar a carreira já tinha a ideia de escrever um livro sobre a minha vida profissional e relatar situações menos conhecidas, mas muito faladas. Calhou ser agora.
Os casos que descreve são crimes que já prescreveram. Fez de propósito para não arranjar problemas legais?
A primeira versão do livro era mais dura. Escrevi os nomes dos
envolvidos, dos clubes, tudo. Mas decidi recuar porque iria passar a
vida inteira nos tribunais. Não escrevi o livro de ânimo leve, nem para
ganhar dinheiro.
Qual é o objectivo então? O jogador é
tratado como uma máquina. Éramos carne para canhão. É como se tivéssemos
uma faca apontada: “Ou fazes isto ou não jogas”. São histórias que
merecem ser contadas.
Ao decidir não escrever o nome das pessoas e dos clubes envolvidos está a lançar suspeitas sobre todos. Não quero atingir ninguém, mas alertar as pessoas para a realidade do doping. Os que conhecem o mundo do futebol sabem a quem são dirigidas estas palavras e percebem que não são generalizadas.
Com que idade se dopou pela primeira vez?
Com vinte e poucos anos. O início da minha carreira foi muito
transparente. Quando se tornou maior o nível de exigência e mais altos
foram sendo os objectivos do clube, começaram a surgir algumas situações
duvidosas.
No livro, conta que os jogadores entravam no
balneário “como galinhas” a perguntar “onde estava o milho” e que iam
direitos ao massagista para serem dopados. De que clube está a falar? As pessoas ligadas ao futebol sabem de que clube se trata.
Falou com algum deles sobre o livro que ia escrever? Não. Ninguém sabia de nada.
Como acha que vão reagir quando lerem o livro? Alguns irão reagir mal. Estou-me a borrifar.
Depreende-se que passou os melhores anos da sua carreira dopado. Não, isso não era sempre. Não me dopei a vida inteira.
A partir dos “vinte e tal anos”, houve três clubes onde teve “grandes épocas”: Porto, Boavista e Belenenses. Dopou-se no Porto? Não.
E no Boavista ou no Belenenses? Não respondo.
Antes destes clubes nunca se tinha dopado?
Que eu soubesse não. Quando chegava a um clube havia muitos
medicamentos e nem sempre era informado do que andava a tomar. Havia
clubes que nos davam cápsulas sem qualquer nomenclatura ou a marca do
medicamento. Hoje o controlo é mais apertado e os clubes não arriscam
tanto.
Quando é que se dopava? No próprio dia do jogo.
No livro fala muito num massagista que dava as doses aos jogadores…
Sim. Ele gabava-se que tinha uma pessoa controlada no Centro Nacional
Anti-Doping e sabia sempre com antecedência em que jogos eram feitos os
controlos. Dava-nos o doping, dizendo que dava mais força no campo. E era verdade.
Relata o uso de juniores como cobaias para as dosagens. Não o chocava ver miúdos a serem usados assim?
Para quem está neste meio há muitos anos, há situações que nos passam
ao lado. Não íamos fazer nada, nem denunciar a situação ao treinador ou
ao presidente. Era impossível. Eu estava ali de passagem, não tinha nada
a ver com aquilo. Mas foi uma das situações mais complicadas a que
assisti.
O uso de doping era generalizado? Falava-se muito disso entre os jogadores. Acontecia mais nos clubes pequenos e intermédios, que não queriam descer de divisão ou lutavam por um lugar na UEFA. Talvez só os grandes estivessem fora deste esquema.
Contou à sua mulher que se dopava? Não era preciso, ela sabia.
Uma pessoa que me conhecia há tantos anos sabia que eu não fazia mal a
ninguém. E naqueles dias ficava completamente alterado. Nem com a minha
filha mais velha queria falar. Estraguei a minha vida particular com o doping. Era fácil que ela percebesse, até porque o cheiro do meu corpo quando estava dopado era mau. A droga saía por todos os poros.
E diz que não se arrepende.
A bola deu-me coisas boas. Passei pelos cinco clubes campeões
nacionais, mas não ganhei fortunas. Tenho de trabalhar para viver.
Nem
mesmo depois de ter sido excluído pelo seleccionador para um campeonato
da Europa, como refere no livro, por estar esgotado depois de uma época
com doping? Não. Porque a minha pré-convocatória para essa fase final abriu-me portas para ingressar num grande clube.
Nota hoje que o doping lhe tenha causado algum dano físico? Não, até porque não tomei assim tantas vezes.
Era generalizada a procura de acompanhantes por futebolistas durante os estágios?
Não. Presenciei no máximo umas três a quatro vezes episódios como esses
em estágios da selecção. E eram poucos os futebolistas que o faziam. Eu
não alinhava. Sempre fumei quando jogava à bola, fiz muita porcaria,
mas não sentia necessidade de ter mulheres, profissionais ou não, às
escondidas. Mas esses jogadores não jogavam pior no dia seguinte.
DOPING “Tomei doping de todas as vezes que me foi dado. E quem recusasse tomar alguma coisa, provavelmente ficaria sem jogar. Nunca vi um único colega insurgir-se contra esta situação”
MILHO NO BALNEÁRIO “Havia jogos em que entrávamos no balneário e perguntávamos: onde está o milho? Aparecia o massagista com uma bandeja recheada de seringas para dar a cada um. Parecíamos galinhas de volta do prato, à espera da vez”
O SEGREDO “Tenho todo o prazer em explicar-te qual era o segredo: uma pequena vacina, do tamanho de uma meia unha, chamada Pervitin. Espetavam-nos aquilo no braço e dava para correr e saltar quatro jogos de seguida”
COBAIAS “Em certos treinos víamos um ou dois juniores que apareciam para treinar. Estavam ali para servirem de cobaias as novas dosagens”
BENFICA “Assinei pelo Benfica na casa da Leonor Pinhão e do João Botelho”
Antigos colegas negam uso de drogas
Fernando Mendes diz que todos sabiam, mas ninguém se insurgia. Colegas falam de busca de protagonismo pelo antigo internacional.
Ao longo de 175 páginas, Fernando Mendes afirma sem rebuços que nunca viu um colega insurgir-se contra o uso de doping,
invariavelmente fornecido pelos massagistas de alguns clubes por onde
passou. Apesar da franqueza com que assume a utilização de substâncias
dopantes, nenhum dos seus antigos colegas de equipa e da selecção
contactados pelo Expresso confessa ter alguma vez consumido ou visto
alguém utilizar doping para melhorar o rendimento.
“Cada
um que fique com a sua consciência”, atira João Vieira Pinto, seu
companheiro no Benfica, Boavista e selecção. “Nunca precisei de tomar
nada para vencer. É uma das coisas de que mais me orgulho na vida”,
refere, assumindo-se um crítico severo do uso de doping. Colega
de Mendes no Belenenses, Taira mostra-se surpreso com a atitude do autor
de “Jogo Sujo”, acusando-o de querer protagonismo. “Nunca usei ou vi
colegas a consumir doping e duvido que tal tenha sucedido no
Belenenses”, sustenta Taira. “Fomos sujeitos a vários controlos e não
houve casos positivos”, acrescenta. Tulipa, que se cruzou com Fernando
Mendes em épocas diferentes, também nega ter assistido a algo suspeito.
Tais
situações são ainda “novidade” para os então presidentes do Boavista e
do Belenenses, dois dos clubes indiciados na autobiografia. “Não tenho
conhecimento de tal”, sustenta Valentim Loureiro, que remete a eventual
responsabilidade destes actos para o jogador e para os médicos ou
massagistas de então. “Isto é uma parvoíce”, frisa José António Matias,
alertando que o “jogador devia ter denunciado tais práticas era na
altura”.
Segundo Luís Horta, director do Conselho Nacional
Anti-Dopagem (CNAD), o número de casos positivos no futebol tem
diminuído substancialmente em relação aos anos 90 – rondavam os 2% das
amostras recolhidas contra os menos de 1% nesta década. Em 2008, houve
apenas 3 casos, equivalentes a 0,3% das análises. “Hoje, os controlos
são muito diferentes, realizados sem aviso prévio, em competição e fora
dela, à urina e às vezes ao sangue”, diz Luís Horta, que não tem dúvidas
que “é impossível um clube ou atleta saber que será alvo de controlo”.
Os clubes são sorteados por sistema informático e os jogadores sorteados 15 minutos antes do final do jogo. Este sistema foi montado no final de 90, após a PJ, em colaboração com o CNAD, ter detectado que um funcionário deste organismo e um médico com ligações a clubes “vendiam substâncias dopantes e informação de controlos”, o que levou à prisão dos dois implicados.
Está instalada a polémica no Futebol Clube de Serpa, tendo como pano de fundo acusações de incentivo ao uso de substâncias proibidas por parte dos jogadores tendo em vista a meia-final da Taça de Honra da Associação de Futebol de Beja.
Os protagonistas são o ex-treinador José Luís Prazeres, na pele de denunciante, e António José Belinha, membro da atual Comissão Administrativa que gere o clube. O jogo em causa é o Serpa-Almodôvar, marcado para amanhã, no Estádio 25 de Abril.
Rogério Jóia, da Autoridade Antidopagem de Portugal, garante
um futebol limpo e revela como se processam os controlos e porque em 2017 só
houve três casos.
Apenas três casos de doping no futebol português em 2017. Os
números de 2018 ainda não são públicos, mas “são inferiores”, segundo
garantiu Rogério Jóia, da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), ao DN.
Será o futebol pouco controlado, um desporto limpo ou a política antidoping de
Portugal está a funcionar? “O futebol é a modalidade mais controlada no
país”, garantiu ao DN o líder da autoridade antidopagem, feliz por ter
“um futebol limpo”.
Bons profissionais à frente dos clubes e uma maior
consciencialização são alguns dos fatores a contribuir para o reduzido número
de casos positivos: “Os departamentos médicos dos clubes, nomeadamente os
profissionais, estão alicerçados em profissionais médicos altamente competentes
e, em geral, com sensibilidade e motivação relevantes para a luta contra a
dopagem, o que é louvável e o que permite um cuidado acrescido relativamente à
não utilização de substâncias e métodos proibidos por parte dos jogadores e,
consequentemente, um menor número de casos de doping.”
E não é por falta de colheitas. Em 2017 foram feitos
3487 controlos em Portugal com 54 positivos, apenas três deles no futebol. Um
dos casos foi o de Douglas, ex-jogador do Sporting. “É com enorme mágoa
que informo que, num controlo antidoping em
finais de abril do ano passado, acusei positivo. Em consciência, não tomei
nenhuma substância com o objetivo de melhorar o meu rendimento
desportivo”, defendeu-se o jogador. O caso está agora no Tribunal Arbitral
do Desporto.
Existem controlos em competição e fora de competição. Mas como se
processam? Há em todos os jogos? Como se escolhem os jogadores? “Na I e II
Ligas existem pelo menos dois jogos da I Liga controlados em todas as jornadas
e um jogo da II Liga. Os jogos são sorteados através de um programa informático
que permite um equilíbrio de controlo entre todos os clubes”, explicou o
dirigente.
Para além disso, com base em análises de risco e
informações trabalhadas pelo departamento de Intelligence da ADoP, podem mandar
controlar mais jogos. Ou seja, muitas vezes são controlados vários por jornada.
Segundo o presidente da antidopagem explicou ao DN, estas análises de risco são
efetuadas com base em métodos policiais usados em todas as polícias do mundo:
“Temos atualmente na ADoP uma sala de operações, onde estas análises de
risco são efetuadas e onde apenas muito poucas pessoas podem entrar, em virtude
da confidencialidade da informação.”
Para além disso, existem também controlos fora de
competição e que abrangem todo o plantel de uma equipa de futebol: “Enquanto
a UEFA e a FIFA em geral fazem controlos a cerca de dez ou 12 jogadores do
plantel, a ADoP, comigo como presidente, faz a todo o plantel. Se forem 30
jogadores, serão 30 amostras e não só de urina mas também de sangue/passaporte
biológico e muitas das vezes de EPO.”
Quanto aos campeonatos não profissionais, as visitas são de acordo com
as análises de risco ou quando “o organismo tem conhecimento de que algo
pode não estar bem”. De vez em quando até os juniores são submetidos a
controlos “até por uma questão de prevenção e educação”.
Nesta semana, o assunto do doping ganhou
importância depois de uma troca de palavras entre o FC Porto e o Benfica sobre
controlos. Nada que altere a agenda da Autoridade Antidopagem de Portugal:
“A ADoP não se deixa manipular ou ceder a pressões. Quem estabelece as
regras somos nós, e não o chamado ruído clubístico.”
Colaboração com FIFA e
UEFA
Os clubes e os jogadores têm de contar com as visitas
dos vampiros, como são conhecidos os médicos das recolhas da UEFA e da FIFA. A
antidopagem portuguesa é sempre informada quando estas entidades querem
controlar clubes portugueses, até para não duplicarem ações. Por vezes, num
curto espaço de tempo, controlam o mesmo clube ou os mesmos jogadores. Quando
isso acontece é porque foi detetado algo de suspeito. “Acontece devido à
interligação que existe entre nós e ao facto de por vezes termos alguma maior
ou menor suspeita. Suspeita essa que é falada entre estas três entidades (ADoP,
UEFA e FIFA). São obviamente conversas muito sensíveis e confidenciais sobre
atletas, que ficam apenas no conhecimento de duas ou três pessoas destas
entidades”, defendeu Rogério Jóia.
Em 1.º no passaporte
biológico
Portugal faz mais recolhas do que
todas as autoridades antidopagem internacionais, entre as quais a UEFA e a
FIFA, segundo a Agência Mundial Antidopagem. Além disso, está ainda
no primeiro lugar do mundo nos controlos do passaporte biológico no futebol.
“Por isso, somos hoje no futebol e não só, altamente respeitados e
solicitados em termos mundiais. Há dois anos, quando mandei inserir o
passaporte biológico no futebol, existiram pessoas com responsabilidades no
combate à dopagem que disseram não haver necessidade. Agora, no mundo inteiro,
este é o caminho. Tinha razão e por isso estamos na vanguarda.”
E quando há uma análise positiva, qual é o procedimento?
“O laboratório notifica a ADoP e esta a federação, que por sua vez
notifica o clube e o atleta. Se o mesmo não quiser a análise da amostra B
(chamada contra-análise), fica logo suspenso, se quiser é marcada a realização
desta, e o atleta até ao resultado da amostra B pode continuar a competir. Se o
resultado da amostra B continuar a ser positivo, é imediatamente
suspenso”, explicou Jóia, lembrando que é preciso celeridade entre um
resultado e o outro, para que não haja o perigo de o atleta competir dopado.
Seguidamente, existe um processo disciplinar por dopagem, em que o
atleta pode defender-se e que culmina com a absolvição ou punição. Regra geral,
com a punição. Os casos em que o jogador acaba inocentado são raros, mas
existem – como Rui Jorge, em 2004.
O Laboratório de Lisboa perdeu a credenciação
internacional em 2016 e ainda não a recuperou. No entanto, segundo o presidente
da ADoP, não tem havido “qualquer dificuldade na implementação do Programa
Nacional Antidopagem, ou seja, na realização de controlos, pelo facto de o
laboratório português estar suspenso”.
Aliás, segundo Rogério Jóia, os melhores resultados da ADoP no ranking da Agência
Mundial Antidopagem têm sido obtidos com o laboratório português suspenso:
“Como português, obviamente que espero que o laboratório seja reaberto,
mas o facto de estar fechado, não nos condiciona. O que é importante é a ADoP
poder trabalhar com laboratórios certificados pela AMA (neste momento penso
serem cerca de 27 no mundo inteiro), que permitam resultados fiáveis, eficazes,
transparentes e rápidos.”
Hoje em dia as amostras são recolhidas e a urina vai para Ghent, na
Bélgica, e o sangue para Barcelona, Espanha. Os resultados chegam no prazo de
cerca de dez dias úteis (espaço estabelecido internacionalmente pela AMA),
contrariamente ao que acontecia.
Os casos mais célebres
António Veloso
Falhou o Mundial 86 depois de acusar anabolizantes no sangue. Ainda
hoje garante “por tudo o que há de mais sagrado” que nunca se dopou:
“Aquelas análises não eram minhas de certeza. Quiseram que eu não fosse
para ir outro. Éramos uns seis jogadores para o controlo. Eu era o sexto e a
minha análise apareceu com o número quatro…”
Hernâni
Em 1988 rebentou a bomba na Luz: Hernâni acusou cocaína num controlo
antidoping. O castigo foi três meses fora dos relvados. O jogador remeteu-se ao
silêncio, mas ainda hoje há quem garanta que foi tramado e que o positivo era
de um outro jogador do Benfica.
Fernando Couto
Nandrolona foi a substância que manchou a carreira de Couto. O central
jogava no Parma quando, em 2001, foi apanhado num controlo antidoping. “Estou
tranquilo porque, repito, nunca tomei nada de proibido”, disse Couto, que
foi suspenso por dez meses e viu depois o castigo reduzido para cinco.
Abel Xavier
No início da época de 2005-2006 o lateral acusou positivo para o uso de
esteroides anabolizantes (metandrostenolona). Algo que sempre negou. Condenado
a um afastamento de 18 meses, a pena foi depois reduzida a 12 meses, retomando
depois a carreira no Middlesbrough.
Quim e Kenedy
Em 2002, a seleção foi afetada por dois casos. Primeiro Quim (acusou nandrolona
e foi suspenso por três meses), depois Kenedy no estágio do Mundial 2002.
Acusou furosemida, substância presente em medicamentos diuréticos e foi
suspenso por 18 meses.
Deco
O jogador testou positivo para as substâncias hidrocloratiazida (diurético) e carboxi-tamoxifeno (hormônio) em março de 2013, quando atuava pelo Fluminense. Clamou inocência mas foi suspenso por um ano. O caso precipitou o fim da carreira do mágico, que acabou absolvido pelo Tribunal Arbitral do Desporto.
Nuno Assis
O caso mais recente foi o de Nuno Assis, que em 2006, no Benfica,
acusou norandrosterona e foi suspenso por meio ano. A situação chegou aos
tribunais e deu muito que falar por alegadas falhas do processo. A PGR defendeu
que o Conselho de Justiça da Federação violou a lei ao arquivar o processo.
Maradona
Em 1991, então no Nápoles, acusou cocaína, e três anos depois testou
positivo para cinco substâncias (efedrina, norefedrina, pseudoefedrina,
norpseudoefedrina e metaefedrina) no Mundial 2014. Jurou “pelas filhas”
que não se dopou, mas o caso precipitou o fim da carreira.
Romário Em 2007, Romário também foi apanhado. O baixinho, como era conhecido, acabou absolvido depois de provar que usava a substância finasterida há mais de dez anos para combater a queda de cabelo e nunca tinha acusado nada em controlos anteriores.
O futebol foi a modalidade que mais casos de doping registou em Portugal no ano passado, segundo os dados divulgados ontem pelo Conselho Nacional Antidopagem (CNAD).
Dos 44 positivos registados em 2007 – menos oito do que em 2006 – onze foram no futebol, num total de 318 acções de controlo em que resultaram 1130 amostras recolhidas. Os casos dizem respeito a atletas de equipas da III divisão (sete), três na Taça de Portugal e um em juniores.
Na divulgação dos resultados realizada ontem no Centro de Medicina Desportiva de Lisboa, o ciclismo (o segundo com mais controlos: 141 e 390 amostras), o boxe e o golfe surgem com cinco registos cada. Quatro dos cinco testes positivos no golfe acusaram canábis – substância considerada proibida mas que pode ajudar em desportos que requerem grande concentração – resultando num aumento da sua utilização, a par dos anabolizantes, comparando com 2006.
LAURENTINO ELOGIA Na apreciação que fez dos resultados, o Secretário de Estado da Juventude e Desporto, Laurentino Dias, elogiou o trabalho do CNAD.
“Os números são bons e claros. Significam que o Laboratório [Nacional Antidopagem – LAD] cumpriu a sua missão em 2007, acentuando a sua presença onde era necessário”, comentou, realçando a importância da redução. “Estamos no bom caminho. Bom resultado seria chegar a um ano em que não haja casos positivos. Mas quando aumentamos o número de controlos e diminui o número de casos, isso quer dizer que os atletas já compreenderam o que é o desporto verdadeiro”, sublinhou Laurentino. Já o presidente do LAD, Luís Horta, frisou que os casos podem aumentar, dado que dez amostras de sangue, relativas a corredores participantes na última Volta a Portugal em bicicleta, estão a ser analisadas no laboratório de Lausana, na Suíça.
NÚMEROS 44 – É o número de casos de doping verificados em Portugal em 2007. O futebol liderou com 11 casos e o ciclismo, golfe e boxe registaram cada cinco controlos positivos.
11 – O futebol foi a modalidade que registou maior número de casos. Em 318 acções de controlo, que resultaram na recolha 1130 amostras, das quais 11 positivas.
2 – Além dos 44 casos registado em Portugal, houve mais dois de desportistas portugueses (automobilismo e futebol) que foram detectados em competições internacionais.
142 – É o número de amostras tiradas para a detecção de Eritripoeitina (EPO). O ciclismo registou dez colheitas duplas: sangue e urina.
1 – Do total de casos, destaque para as modalidades menos conhecidas: pesca desportiva, bridge, xadrez e actividades subaquáticas.