Tozan Anicet

Costa-marfinense barricado em Mafra

Jogadores sul-americanos e africanos são os principais visados nestas situações. O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, recorda que este órgão tem ajudado vários atletas estrangeiros a voltar ao país de origem: “Intervimos sempre que possível porque também gostamos que os sindicatos de outros países façam o mesmo com jogadores portugueses que possam estar em situação semelhante no estrangeiro.” Evangelista garante que há cada vez mais atletas abandonados no futebol português, embora muitos fiquem em silêncio: “Só podemos agir quando há denúncias, mas essas são raras porque os jogadores têm medo de nos procurar. Seja porque são ameaçados por agentes e clubes que lhes dizem que nunca mais jogam em lado nenhum se falarem, seja porque não querem voltar aos seus países, onde vivem em pobreza, com o sentimento de terem fracassado na Europa. Aguentam até entrar em desespero.”

Foi o que aconteceu com Tozan Anicet. O costa-marfinense, de 23 anos, barricou-se nas instalações do Mafra por não querer regressar ao seu país sem dinheiro. Esteve ao serviço dos mafrenses na época passada, mas lesionou-se e regressou à Costa do Marfim no final da temporada. Pouco depois voltou a Portugal para regularizar a sua situação junto do SEF e tentar a sorte noutro clube. Treinou-se no Fátima onde lhe transmitiram que queriam ficar com ele e ajudá-lo no processo de legalização: “É um jogador com muito talento, gostávamos muito de o ter contratado, mas estava com problemas psicológicos e tivemos de deixá-lo sair”, assegura o presidente do Fátima, o padre António Pereira. “Via-se que ele estava revoltado por não poder jogar devido à sua lesão e tornou-se violento com os outros colegas. Chegou a dar uma dentada na testa de outro jogador. Não tinha condições psicológicas e decidimos dispensá-lo.” Os funcionários do clube deixaram Anicet no aeroporto, mas este não embarcou.

“Desesperado, perante a situação de regressar ao seu país sem dinheiro, voltou para trás e dirigiu-se ao Mafra. Pediu ajuda ao presidente e ao diretor desportivo para ser recuperado e ter estadia, mas foi-lhe recusado”, conta Evangelista. O jogador lembrou-se então que existia no centro de Mafra um edifício afeto ao clube. Sem ninguém ver, conseguiu entrar nas instalações para pernoitar. “No dia seguinte, a 9 de fevereiro, foi identificado, recusou-se a sair e acabou por ser levado para o posto da GNR de Mafra. Foram eles que nos contactaram. O nosso delegado João Oliveira Pinto foi buscá-lo, levou-o para o Sindicato e tratámos de comprar o bilhete para que ele regressasse ao seu país.”

Notícia publicada em: Record (21 de Fevereiro de 2015)