Violência

Caracterização

Com o passar dos anos, o futebol foi-se tornando numa modalidade mais elitista e com isso a violência foi-se tornando mais rara, mas nunca desapareceu. Desde sempre, o futebol foi um desporto que arrastou multidões, e com isso despoletou paixões, ódios, mil e um sentimentos entre adeptos e praticantes.

Sentimentos estes que muitas vezes dão origens a atos que não enaltecem em nada o nome do futebol.

A violência no futebol tem-se registado aos mais diversos níveis: começando pelos praticantes, dirigentes, treinadores, árbitros, passando pelas claques, todos os elementos que compõem este desporto já foram vítimas e culpados da ira dos seus opositores.

Casos como o de Heysel Park, do Jamor, só para falar nos mais conhecidos para nós, são o culminar desta violência que está instalada neste desporto. Algo deve ser feito para pôr termo a esta situação, alguns esforços já estão a ser realizados na tentativa de evitar que acontecimentos como estes ocorram.

Objetivos

– Afastamento dos adeptos de risco, principalmente os que adotam comportamentos violentos ou ilícitos ou que mostrem capacidade de mobilização dos Grupos Organizados de Adeptos (GOA) para episódios de violência (através da aplicação de medidas de interdição judiciais, administrativas e disciplinares);

– Ação coordenada das autoridades judiciárias, visando a desarticulação de fenómenos de violência e criminalidade organizada, bem como crimes associados a organizações de cariz xenófobo, racista ou extremista;

– Política transparente de gestão dos apoios dos clubes aos GOA, recusando apoio aos que não cumpram os requisitos legais e firmando protocolos que corresponsabilizem objetivamente as partes visadas. Deverão ser estipuladas condições disciplinadoras que levem os GOA a beneficiar do seu próprio bom comportamento;

– Estratégia inclusiva dos clubes para com os bons adeptos, patrocinando iniciativas como fan projects e fan coaching, potenciando e dando voz aos GOA que sigam princípios de autorregulação, integração dos adeptos mais novos e promoção de valores éticos, de tolerância e respeito;

– Mudança de atitude dos clubes relativamente à instrumentalização dos GOA como meio de pressão, cessando o apoio a grupos cujos seus elementos tenham praticado ou participado em atos de violência associada ao desporto ou ilícitos ao regime legal que combate essa violência;

– Ação disciplinar firme, célere e consequente dos organizadores das competições, que corresponsabilize os clubes pelo comportamento dos adeptos e os motive a cumprir o seu papel numa abordagem multi-institucional.

Embaixador

Abel Xavier (Nampula, 30 de novembro de 1972) jogou em 14 clubes de oito países diferentes. Português com sangue africano, fez carreira na Europa e acabou-a na América, jogou na Seleção Portuguesa (20 internacionalizações; 2 golos), disputou um Europeu e um Mundial e tornou-se num dos ícones da sua geração, fruto de uma personalidade forte, de uma imagem característica e de um discurso marcante, que tanto aborda futebol como religião.

Abel Xavier considera-se um cidadão do mundo e aceitou o desafio do Sindicato dos Jogadores para ser o embaixador da Semana contra o Racismo e a Violência no Desporto.

O que diz o regulamento disciplinar da Liga sobre os episódios de violência?

Os clubes que exerçam violências físicas ou morais sobre delegados da Liga, observadores de árbitros, dirigentes, jogadores, treinadores, secretários ou auxiliares técnicos, médicos, massagistas e delegados ao jogo do clube adversário, que ocasionem inferioridade na sua representação aquando dos jogos oficiais e contribuam para o desenrolar deste em condições anormais, serão punidos nos termos do n.º 2 do artigo 62.º.

E no que ao incitamento à indisciplina diz respeito, quais as sanções previstas?

Os dirigentes que, por ocasião dos jogos oficiais, assumirem
atitudes de violência ou incitarem o público, jogadores e demais agentes
desportivos à prática de atos violentos ou de indisciplina são punidos com a
sanção de suspensão a fixar entre o mínimo de seis e o máximo de 18 meses e,
acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 75
UC e o máximo de 350 UC. 

Ações

– Promoção da campanha “Em Campo Jogamos o Mesmo Jogo”

– Desenvolvimento da campanha “Semana Contra a Violência no Desporto”

Sabias que...

– Em maio de 2018, os dados da PSP indicavam que estavam 2219 adeptos envolvidos em situações de violência no futebol. Destes adeptos referenciados pelas autoridades apenas 19 estavam, nessa altura, interditados de entrar nos estádios.

– Em fevereiro de de 2020, no seguimento de um projecto-piloto de combate à violência em espectáculos desportivos, iniciado em setembro de 2019, na Comarca de Braga, estavam proibidas de entrar em recintos desportivos 53 pessoas

– A PSP identifica uma série de tendências e discursos que imperam no discurso público para “justificar" a violência no futebol:

1- Uma que afirma que os fenómenos de violência são casos de polícia e que só à policia compete prevenir e reprimir este tipo de comportamentos;

2- Outra que afirma que a principal responsabilidade é dos clubes;

3- Outra tendência, seguida pelos responsáveis dos principais clubes, que, normalmente, consideram que os casos em que os seus adeptos são agressores é um problema de polícia e de responsabilidade individual dos seus autores e os casos em que os seus adeptos são vítimas são também responsabilidade coletiva de outro ou outros clubes;

4- Os que afirmam que em Portugal a situação não é grave, que existem países – veja-se a Grécia, a Polónia, ou mesmo o Brasil ou a Argentina – onde a violência é muito maior e mais frequente;

5- Os que afirmam que a situação já foi pior e que hoje árbitros e agentes desportivos estão muito mais protegidos, e que a segurança atual nos grandes espetáculos desportivos é muito maior;

6- Os que defendem que a violência associada ao desporto é uma “válvula de escape" das tensões quotidianas.